A história conta que logo após a iluminação do Buda ele estava caminhando ao longo da estrada através dos campos de Mágada, a caminho de encontrar os cinco companheiros com quem havia praticado austeridades antes de sair sozinho à procura da verdade a seu próprio modo. Ao longo da estrada, outro andarilho asceta, chamado Upaka, viu-o se aproximando e ficou muito impressionado com a aparência do Buda. Ele não somente era um príncipe nobre e guerreiro, com todo o porte real advindo daquele tipo educação, mas também tinha bem mais de um metro e oitenta de altura, era extraordinariamente belo, estava vestido com um manto de trapos de andarilhos ascetas, e brilhava com uma radiância deslumbrante. Upaka estava impressionado:
“Quem é você, amigo? Seu semblante é tão clado e brilhante; sua conduta é impressionante e serena. Certamente você deve ter descoberto alguma grande verdade — quem é seu mestre, amigo, e o que é que você descobriu?”
O recêm desperto Buda respondeu: “Eu sou um daqueles que transcendeu tudo, que conhece tudo. Eu não tenho mestre. Em todo o mundo somente eu sou completamente iluminado. Não existe quem me o tenha ensinado — eu cheguei nisso através de meus próprios esforços.”
“Você está querendo dizer que afirma ter vencido o nascimento e a morte?”
“De fato, amigo, eu sou um vitorioso; e agora, neste mundo de cegueira espiritual, estou a caminho de Varanasi para tocar os tambores a Imortalidade.”
“Bem, que bom para você, amigo,” disse Upaka, e balançando a cabeça enquanto se ia, seguiu por um caminho diferente.
O Buda compreendeu neste encontro que a mera declaração da verdade não necessariamente desperta fé, e também pode não ser efetiva para comunicá-la aos outros, portanto ao chegar ao parque dos cervos nos arredores de Varanasi e encontrar com seus antigos companheiros, ele já havia adotado um método muito mais analítico (vibhajjāvada em Pali) e havia assim composto a fórmula das Quatro Nobres Verdades. Isso refletia uma substituição da expressão de: “Eu atingi a Perfeição,” para “Vamos investigar por que é que alguém experiencia a imperfeição.”
Retirado (e traduzido livremente) de: Food for the heart — the collected teachings of Ajahn Chah, 2002, p. 27.